Por mais que as federações partidárias tenham sido criadas para dar estabilidade e coerência programática ao sistema político brasileiro, na prática elas vêm se mostrando, muitas vezes, um campo minado de vaidades e disputas por poder. Um exemplo claro disso é a tensão crescente entre PRD e Solidariedade no Distrito Federal, cuja federação parece mais uma arena de confronto do que um projeto político conjunto.
Com a data marcada para 24 de junho, o duelo silencioso entre o “time verde”, liderado por Lucas Kontoyanis (apelidado de “mago das nominatas”), e o “time laranja”, comandado por Reguffe, já tem um favorito claro e não é difícil entender o porquê.

Lucas Kontoyanis já costurou praticamente toda a nominata do PRD, amarrada com cargos no gabinete do deputado distrital Rogério Morro da Cruz e no Governo de Ibaneis Rocha (MDB). Com o apoio desse grupo, o comando da federação deve ser entregue ao mago, deixando o Solidariedade com um papel coadjuvante, quase figurativo. Estima-se que o partido de Reguffe ficará com míseros 20% das vagas para as eleições de 2026. Um contrassenso, considerando que Reguffe é um nome conhecido, ex-senador e possível candidato a deputado federal ou algo mais ambicioso, se conseguir espaço.
Mas é aí que o sapato aperta: o espaço está fechado com cadeado e o dono da chave é Kontoyanis. Quem manda na nominata, manda também na estratégia majoritária e, segundo tudo indica, o plano é colocar Celina Leão na disputa pelo GDF e manter Ibaneis na corrida pelo Senado, ambos já abençoados publicamente por Morro da Cruz.
Enquanto isso, Reguffe assiste à construção de uma federação em que é hóspede, não anfitrião. Pior: sem o controle do fundo eleitoral, que também ficará sob o comando de Kontoyanis, Reguffe e seus aliados podem acabar relegados ao papel de figurantes em uma eleição onde deveriam ser protagonistas.
No fim das contas, a federação entre PRD e Solidariedade pode virar um daqueles casamentos arranjados onde uma das partes domina e a outra obedece ou sai de casa. Porque se o Solidariedade aceitar essa lógica, de solidariedade mesmo, só restará o nome.