Megaoperação contra o Comando Vermelho deixa rastro de corpos e provoca crise política e moral no Brasil
O Rio de Janeiro viveu um dos dias mais violentos de sua história recente. Em apenas 24 horas, a Operação Contenção, deflagrada na madrugada de terça-feira (28/10), mobilizou 2,5 mil policiais civis e militares para atacar redutos do Comando Vermelho (CV) nos complexos da Penha e do Alemão. O saldo foi devastador: 119 mortos — entre eles quatro policiais —, 113 presos, 118 armas e toneladas de drogas apreendidas.
Segundo as autoridades, a ação buscava deslocar o confronto para as áreas de mata da Serra da Misericórdia, reduzindo o risco à população civil. Mas o que se viu foi um cenário de guerra urbana, com tiroteios, explosões e o uso inédito de drones lançando granadas contra as forças de segurança. Pela manhã seguinte, moradores retiravam corpos da mata e os alinhavam em praças públicas, em cenas que lembravam zonas de conflito.

O governo estadual classificou a operação como “o maior golpe da história contra o Comando Vermelho”. Já organizações de direitos humanos, parlamentares de esquerda e moradores chamaram o episódio de “massacre” e pediram investigações independentes sobre execuções sumárias.
A reação política foi imediata. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara pediu à Procuradoria-Geral da República a prisão do governador Cláudio Castro (PL) e anunciou uma diligência emergencial nas comunidades atingidas. No Senado, o presidente Davi Alcolumbre confirmou a instalação da CPI do Crime Organizado para investigar facções e milícias.
Entre os mortos, estavam Penélope, a “Japinha do CV”, e Éder Alves de Souza, o “Disquete”, ambos foragidos e ligados à cúpula da facção. As mortes foram comemoradas por parte do governo fluminense, mas criticadas por analistas que veem a operação como mais um episódio de força bruta sem resultado estrutural.
Como lembrou o jornalista William Waack da CNN Brasil, “contar cadáveres não é sinônimo de vitória”. O que emergiu do Rio foi um retrato brutal de um país que, diante da violência e da inércia política, ainda confunde extermínio com solução.





