segunda-feira, novembro 10, 2025
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Abandono Cultural e Turístico: o grito silencioso das pontas do DF

A indignação ecoa nas cidades e pode custar caro politicamente

Enquanto milhões são destinados a grandes eventos, projetos sociais de pequenas entidades são ignorados e “criminalizados” pelas Secretarias de Cultura e Economia Criativa e a de Turismo do Distrito Federal.
Brasília vive um paradoxo doloroso no campo da cultura e do turismo. Embora o Governo do Distrito Federal (GDF) promova grandes eventos com pompa, como o “Nosso Natal” e o “Aniversário de Brasília”, fomentados pelas Secretarias de Cultura e Economia Criativa e a de Turismo, respectivamente, a realidade nas cidades satélites é bem diferente — e angustiante.
Ambas as secretarias, que deveriam fomentar o desenvolvimento cultural e turístico em todas as regiões do DF, são vistas hoje como símbolos de desigualdade e desprezo pelas iniciativas de base.
Pior: os grandes projetos que recebem milhões de reais estão sob investigação do Ministério Público e da Polícia Civil, em operações como a Krampus e a Transpasse, que apuram suspeitas de irregularidades e favorecimentos.
Enquanto isso, mais de 90% das propostas apresentadas por pequenas entidades culturais e turísticas locais são rejeitadas ou ignoradas. E as poucas que conseguem aprovação das emendas parlamentares enfrentam fiscalização intensa e desproporcional, ao contrário dos grandes projetos, que são aprovados com rapidez e quase nenhum rigor na prestação de contas.
“Estamos cansados de sermos tratados como criminosos, enquanto os verdadeiros privilegiados são blindados”, desabafa um gestor de projeto comunitário da Ceilândia, que prefere não se identificar para não sofrer mais perseguição por parte de gestores destas pastas. Para ele, o sentimento é de abandono, e o desânimo se espalha entre artistas, produtores culturais e pequenos agentes turísticos.
No fim de 2024, o saldo é alarmante: mais de 100 projetos sociais de pequeno porte, voltados para o atendimento local e comunitário, ficaram sem apoio das pastas da Cultura e do Turismo às emendas parlamentares conseguidas com muitas dificuldades.
Muitos desses grupos trabalham com recursos mínimos, verdadeiros “pires na mão”, lutando para manter viva a arte, a cultura e o turismo nas periferias. Já os eventos milionários, vistos por muitos como vitrines políticas, consumiram boa parte do orçamento sem contrapartida concreta para as comunidades.
A crítica é dura, mas reflete a realidade: as Secretarias de Cultura e Economia Criativa e a de Turismo se tornaram, segundo muitos agentes do setor, o “calcanhar de Aquiles” do GDF. E essa insatisfação popular pode impactar diretamente os planos políticos do governador Ibaneis Rocha, que mira uma vaga no Senado. Basta dar uma volta pelas cidades do DF para sentir o descontentamento no ar.
“O que vemos são pastas que não fazem cultura nem promovem turismo. Apenas servem a interesses maiores, esquecendo as pontas que sustentam, com esforço e amor, a identidade cultural do DF”, lamenta outro agente cultural de Samambaia.
Se nada mudar, o legado dessas secretarias será marcado não por festivais ou fogos de artifício, mas pela frustração de quem luta diariamente para manter viva a cultura e o turismo de verdade: aquele que nasce e resiste nas ruas.
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